quarta-feira, 30 de março de 2016

NOSSA MELHOR IDADE

1. BRASIL: UM PAÍS DE JOVENS DE CABELOS BRANCOS
 
Foto de divulgação
Pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE mostra que o mito de que o Brasil é um país de jovens é coisa do passado: 15% da sua população é hoje constituída por idosos – são cerca de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, que colocam o País como o sexto mais envelhecido do mundo
.
Além disso, pelas projeções apresentadas, o processo de envelhecimento da população brasileira tem sido bem mais rápido do que nos demais países. Para se ter uma ideia, enquanto em países como a Suécia foram necessários 80 anos para que 14% de sua população atingisse a faixa superior a 65 anos de idade, esta marca por aqui levou somente 20 anos.

Entre os diversos fatores que contribuíram para isto, economistas apontam a Constituição de 1988 e o Estatuto do Idoso como os mais importantes – o primeiro, pelas mudanças que trouxe nas aposentadorias, e o segundo, pelas conquistas alcançadas.

Também vale ressaltar que a melhoria das condições de saneamento básico e dos avanços da medicina nos últimos anos foram pontos preponderantes nessa mudança de cenário populacional no País.

2. MUDANÇA DE POSTURA
 
É certo que os dois últimos fatores apontados acima não apenas contribuíram para o aumento da expectativa de vida da população brasileira e seu acelerado ritmo de envelhecimento. Foi preponderante também para uma mudança nos hábitos, no comportamento e nas atitudes dos que possuem mais do que 60 anos de idade.

Ao aumentarem em número, essa parcela da população não somente aumentou em renda como, consequentemente, aumentou também sua gama de interesses. A pesquisa do IBGE mostra que os idosos não apenas votam mais frequentemente como ainda assistem mais a telejornais e leem mais jornais do que os jovens.

Aliando a isso o fato de que as rendas da aposentadoria e dos fundos de pensão tiveram um
crescimento de 54% (enquanto a renda do trabalhador caiu 8,5% ao ano, em média), entende-se o porque de só agora o mercado resolver pesquisar e entender as expectativas e os anseios deste segmento da população – e, com isso, conhecer dados dos mais relevantes que ajudam a traçar um perfil minucioso sobre a terceira idade. Entre os principais, têm-se que:

· a maioria das pessoas acima de 60 anos de idade no Brasil é mulher;
· a renda desta faixa etária totaliza R$ 60 bilhões ao ano (o dobro da média nacional);
· a renda média desta população é de cerca de R$ 600,00;
· a proporção de pessoas que pertencem às classes AB é maior do que a média
nacional (38% dos idosos estão nesta classe, contra 29% do total nas regiões metropolitanas);
· 68% das pessoas neste segmento influenciam as compras em seus lares;
· 47% dos idosos auxiliam com contribuições esporádicas, mas que ajudam a melhorar o
padrão de consumo da família.

3. COM DINHEIRO PARA CONSUMIR

 
Foto de divulgação
 
Por tudo apontado acima, e também pelo fato de representarem 15% da população – e ainda por serem responsáveis por manter a renda de cerca de 10 milhões de lares brasileiros – as pessoas com mais de 60 anos de idade já começam a ser vistas por boa parte da classe empresarial nacional, mesmo que de forma incipiente, como uma nova oportunidade de negócios.

Antes de mais nada, é incipiente porque, como visto anteriormente, a rapidez do processo de envelhecimento da população nacional fez com que boa parte das empresas não tivessem tempo para dar a devida importância a este segmento populacional. Como consequência, têm-se boa parte dos produtos vendidos para idosos muito associados à sua incapacidade de locomoção e à sua condição física limitada do que ao crescimento desse grupo etário no mercado consumidor.

No entanto, como dito antes, essa enorme carência de produtos e serviços voltados para as
necessidades dos idosos que se verifica atualmente pode estar com os dias contados: já existem, principalmente nos países do Primeiro Mundo, ações mercadológicas e campanhas publicitárias que atribuem às pessoas com mais de 60 anos uma nova imagem (a de serem donos absolutos de seu tempo, com condições físicas e financeiras de usufruírem os benefícios de uma vida planejada para esse momento).

Esse novo conceito que surge sobre a terceira idade (de que aposentadoria e velhice deixam de ser uma idade de recolhimento e descanso para se transformar num período de atividade, lazer e recreação pessoal) não só contamina o mercado em geral como ajuda a derrubar vários ícones do preconceito contra os idosos – apesar de ainda ser longo o caminho a se percorrer.

4. O PERFIL CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE
 
O idoso de hoje não pode ser comparado, de forma alguma, a maioria dos avós de anos atrás. Primeiro, porque tratam-se de indivíduos com dinheiro suficiente para consumir, com nível de exigência e instrução alto, que acompanham a moda e desejam lazer com qualidade. E, segundo, porque, como consequência disso, a cada ano que passa, essas pessoas já são vistas como um mercado consumidor solidificado (e crescente, diga-se de passagem).

O problema é que, na maioria das situações, não encontram o que procuram com facilidade – o que não significa dizer que façam questão de lojas especializadas na terceira idade. Pelo menos é o que aponta a pesquisa do IBGE, que mostra, entre outras coisas, que senhoras com mais de 60 anos de idade, por exemplo, querem as cores da moda, o modelo usado pelas mais jovens, mas adaptado ao seu corpo (e querem encontrar esse produto em uma loja de departamentos ou no comércio da esquina).

4.1) Vestuário
 
No que diz respeito a esse tema, os dados mostram que 36% dos entrevistados não encontram roupas com facilidade – e desses, 42% têm dificuldade em comprar roupas sociais (e quando encontra, os modelos não agradam). A pesquisa indica ainda que, para os mais idosos, as roupas não apresentam numeração de acordo e os modelos estão dissociados da moda. Também faltam roupas adequadas para pessoas hospitalizadas.

Com relação aos calçados, os idosos se mostraram desejosos de modelos iguais aos similares comercializados nas lojas especializadas, mas devem ser mais confortáveis e apresentar o mesmo custo. Os sapatos para festas e uma linha especial para os diabéticos foram os itens que, de acordo com os entrevistados, estão entre os mais difíceis de serem achados.

4.2) Alimentação
Foto de divulgação
Ainda de acordo com a pesquisa, os idosos brasileiros gastam, em média, 24% do que recebem com alimentação. Em relação a restaurantes, 75% informaram que frequentam estes estabelecimentos, em média, três vezes por mês – mas reclamam que a grande maioria deveria ter rampa na entrada e barras de apoio, bem como piso antiderrapante. Além disso, carecem de lugares reservados para cadeira de rodas, pessoas especializadas para orientar na escolha da alimentação e atendimento especial.

Quando o assunto é compras em supermercados, dos 93% que os frequentam, 62% escolhem os produtos de acordo com a qualidade e a marca e apenas 27% são influenciados pelo preço. Entre as reclamações, estão a dificuldade em encontrar uma variedade de opções de produtos naturais e diet, cosméticos específicos, material de limpeza, arroz e macarrão integral. Também se queixaram do atendimento dos caixas, dos carrinhos de compra não apropriados e das filas grandes (mesmo para idosos).

4.3) Cuidados Pessoais
 
Neste item, 80% informou que frequenta salão de beleza e barbeiro. No entanto, mostram não estarem satisfeitos com serviços de depilação, produtos para maquiagem, tamanho das letras nos rótulos dos cremes, sabonetes, além das tinturas
.
3.4) Lazer e Recreação
 
Entre as atividades de lazer preferidas, estão a caminhada (realizada por 77% dos entrevistados), passear no shopping (72% das indicações), ouvir música (70%) e viajar (62%). Baseados nas respostas, percebe-se que as academias de ginástica possuem um filão para explorar – basta que, para isso, se adequem às necessidades da terceira idade, com equipamentos, profissionais e aulas dirigidas especificamente à esse público.

4.5) Turismo
Foto de divulgação
Por possuir maior tempo livre, as pessoas com mais de 60 anos de idade são público-alvo para o turismo – podendo garantir, inclusive, a ocupação dos equipamentos e serviços turísticos na baixa estação.

Quem planeja trabalhar com este target, no momento de montar um pacote, por exemplo, deve observar cuidados especiais na hospedagem, na alimentação e no transporte (principalmente por se tratar de um público altamente exigente).

Os hotéis devem ter piso antiderrapante, rampas, corrimões e banheiros com apoio. O serviço de check-in deve ser rápido e o estabelecimento deve ter funcionários para auxiliar no carregamento das bagagens. O cardápio deve ser leve e o hotel deve servir as três refeições. 

Na questão do transporte, o motorista deve estar preparado para atender esses turistas e o ônibus precisa apresentar poltronas mais confortáveis e espaçosas, banheiros adequados e escadas adaptadas para diminuir a altura do chão ao primeiro degrau na hora do embarque e desembarque dos idosos.

4.5) Finanças
 
Desde que o governo permitiu a concessão de empréstimos atrelados aos pagamentos dos benefícios do INSS, essa modalidade de crédito para os aposentados não parou de crescer no Brasil: já são mais de 2 milhões de beneficiados que, juntos, contrataram R$ 4,3 bilhões até o momento. Para se ter uma ideia do quanto a terceira idade caiu nas graças do sistema financeiro, hoje, até farmácias estão intermediando estas concessões para esse público.

A novidade, agora, é a chegada de um cartão de crédito exclusivo para os pensionistas da
Previdência oficial. Trata-se de um cartão de crédito como os tradicionais, mas com duas grandes vantagens: além de não cobrar anuidade, permite que os aposentados financiem suas despesas no chamado crédito rotativo com juros mais baixos que os praticados no mercado (algo em torno de 4%, enquanto que algumas administradoras chegam a cobrar, em média, 12% de juros ao mês).

O que mais atrai os bancos para este tipo de financiamento é o baixo risco de calote – afinal, por ser uma operação de crédito consignado (o tomador autoriza o banco a debitar parte da dívida do crédito que ele recebe mensalmente do INSS), a inadimplência é praticamente zero (mesmo em caso de morte, há um seguro que cobre o prejuízo).

Em relação ao risco de um endividamento dos aposentados, para evitar esse complicador, o Governo Federal limitou o valor dos descontos mensais a, no máximo, 10% do valor do benefício recebido. Além disso, o limite de crédito do cartão vai até duas vezes o valor do que é pago pelo INSS.

Por tudo isso, e mais o fato de ganharem ainda mais tempo para pagarem suas despesas (uma vez que o prazo entre a data da compra e o vencimento da fatura pode chegar a 40 dias), esse é um produto que está ganhando, a cada dia que passa, mais adeptos entre as pessoas da terceira idade.

Enfim, dentro de todo esse contexto apresentado aqui, não fica difícil entender os motivos que levam este segmento da população a afetar o crescimento, os investimentos, o consumo, a saúde pública e até o mercado de trabalho tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento – embora, nestes últimos, ainda o faça de maneira um tanto acanhada.

O próximo passo agora é se fazer uso de tais informações a favor dos negócios e, a partir de
então, se dirigir mais e mais a esse novo mercado que surge: a terceira idade (ou, como muitos preferem chamar: a melhor idade).

Fonte: IBGE / Rede Bahia de Televisão

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