É Seu Direito - IV
Luiz Gama será reconhecido pela OAB; abolicionista
libertou mais de 500 escravos
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Foto de Divulgação |
O baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama,
abolicionista negro que libertou mais de 500 escravos no Brasil pela via
judicial – será reconhecido como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) após 133 anos de sua morte.
A cerimônia ocorrerá nesta terça-feira (3) na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, às 19h. Gama, que apesar de ter nascido
livre foi vendido como escravo pelo pai aos 10 anos para pagamento de dívida de
jogo, atuava como rábula, exercendo a advocacia ser ter o título, o que era
permitido naquela época.
De acordo com o presidente nacional da OAB, Marcus
Vinicius Furtado Coêlho, é a primeira vez, no atual modelo da advocacia
brasileira, que este tipo de homenagem é conferida. Logo após a fundação da
entidade, em 1931, o regulamento permitiu a incorporação de rábulas – pessoas
que já atuavam na advocacia – na instituição.
“Embora não fosse advogado, Luiz
Gama era um grande defensor da abolição e sua atuação como rábula livrou
inúmeras pessoas dos grilhões escravistas”, destacou o presidente. Além deste
reconhecimento, a universidade promoverá debates nos dias 3 e 4 para discutir o
legado de Luiz Gama e a escravidão no Brasil. A partir das 9h30 de terça-feira
(3), o presidente do Instituto Luiz Gama, Sílvio Luiz de Almeida, fará
conferência sobre o abolicionista e, em seguida, haverá um ato no Cemitério da
Consolação, onde Gama foi sepultado.
A biografia do negro liberto,
disponibilizada pelo instituto, destaca que o sepultamento dele, em 1882, foi
acompanhado por cerca de 3 mil pessoas, representando 10% da população da época
(40 mil pessoas).
Na quarta-feira (4), das 9h30 às 11h,
pesquisadores convidados discutirão o tema “Escravidão e formação econômica”.
Em seguida, haverá o debate “Direitos sociais e estrutura”. Em uma perspectiva
mais atual, a mesa redonda à noite irá discutir o tema “Segurança Pública e
População Negra”.
Luiz Gama nasceu em 1830, filho de um português e Luiza
Mahin, negra livre que integrou insurreições de escravos. Ele foi para o Rio de
Janeiro aos 10 anos depois de ser vendido pelo pai para pagar uma dívida. Após
conseguir a libertação, sete anos depois, tornou-se um dos maiores líderes
abolicionistas. Em 1869, ao lado de Rui Barbosa, fundou o jornal Radical
Paulistano.
Em 1850, Gama tentou frequentar o curso de Direito do Largo do São
Francisco, hoje, Universidade de São Paulo (USP), mas foi impedido por ser
negro. Ele frequentou ás aulas como ouvinte e o conhecimento adquirido permitiu
que atuasse na defesa jurídica de negros escravos.
Ele destacou-se também como
jornalista e escritor. Nos tribunais, o abolicionista defendeu, principalmente,
negros que podiam pagar pela carta de alforria, mas eram impedidos pelos donos
de escravos. As causas envolviam também os que entraram em território nacional
após a proibição do tráfico negreiro de 1850. Ele ganhou notoriedade ao
defender a tese de que o escravo, ao matar o senhor, agia em legítima defesa.
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