Brasil é o 5º maior mercado do setor de alimentos e bebidas saudáveis
Vendas de alimentos e bebidas saudáveis movimentam
US$ 27,5 bilhões no país
Pic-Me: campanha por maior consumo de frutas de olho nas vendas (Foto: Divulgação/Picme) |
A busca por um estilo de vida mais
saudável deu lugar a uma série de novas empresas, amparadas na produção de
alimentos orgânicos, sem lactose, sem glúten, sem gordura e mais naturais.
O Brasil já é o quinto maior mercado de alimentos
e bebidas saudáveis, com volume de vendas de US$ 27,5 bilhões em 2015, segundo
levantamento da Euromonitor.
A velocidade de crescimento do segmento
impressiona: de 20%, em média, desde 2012 contra 8% no resto do mundo.
É de olho nesse potencial que diversas companhias
surgem no mercado. As novidades vão desde uma empresa criada para reformular as
lanchonetes das escolas até fundos de investimento que apostam na importação de
purê de frutas embalados em sachês. Muitos negócios começaram de maneira
despretensiosa.
É o caso da Lanche&CO, que se propõe a
reformular as cantinas escolares retirando salgadinhos e refrigerantes do cardápio
para dar lugar a opções frescas e naturais. A especialista em alimentação
natural e fundadora da empresa, Lara Folster, viu o que era só cuidado com o
filho virar a fonte de renda da família.
— Era difícil enviar sanduichinho de pão caseiro
na lancheira do meu filho enquanto os amigos comiam os industrializados. Aí
propus ao colégio fazer o lanche para toda a escola — contou Lara, que iniciou
seu negócio no Colégio Wellington que fica no bairro de classe média baixa da
Freguesia do Ó.
De marmita fresca a papinha gourmet
A Lanche&CO já está hoje em três escolas de
São Paulo, uma no Rio e outra em Santos. Quando é contratada por uma escola,
uma das metas da empresa é oferecer opções saudáveis sem elevar o gasto mensal
dos pais com o lanche.
Mas o potencial de retorno econômico de ideias
como essa é tão atrativo que o fundo de investimento Joá e a Play Capital
lançaram em novembro a PIC-ME, que vende purês de frutas embalados em sachês
sem açúcar ou conservantes. A previsão é estar em 95% do território nacional em
2017.
— Nossa expectativa é ter faturamento de R$ 9
milhões neste ano. Para 2017, queremos mais que dobrar o resultado — disse
Thiago Burgers, diretor executivo da PIC-ME, que é vendida em São Paulo, Rio,
Ceará e na Região Sul.
A projeção de crescimento de dois dígitos é a
característica em comum entre os negócios ligados a versões mais saudáveis de
alimentação. Estudo da consultoria internacional Mintel comprova que a crise
passa longe deste setor: quatro em cada cinco (ou 83%) brasileiros estão dispostos
a gastar mais para obter um alimento saudável.
O material, obtido com exclusividade pelo GLOBO,
aponta ainda que 30% dos consumidores querem maior variedade de itens desta
categoria disponíveis no varejo.
— Apesar do cenário econômico pouco favorável, a
preocupação com o corpo e com o estilo de vida pode impulsionar o crescimento
do mercado de alimentos saudáveis — explicou Naira Sato, especialista da
Mintel.
Não à toa a Verde Campo, especializada em
produtos lácteos saudáveis, como os sem lactose, quintuplicou sua oferta de
2012 para cá. A empresa transforma diariamente 130 mil litros de leite em 70
itens diferentes.
Álvaro Gazolla, diretor comercial da empresa
mineira, diz que, desde 2012, a empresa tem tido crescimento acelerado. No ano
passado, a Coca-Cola anunciou a aquisição da empresa, por meio da Leão
Alimentos, numa operação que está próxima da conclusão. Em 2012 e 2013, o
faturamento da Verde Campo cresceu 75% ao ano. Em 2014 e 2015, a expansão foi
de 45%.
— Quando começamos, a aceitação dos produtos
saudáveis era muito melhor em cidades litorâneas, que sempre tiveram mais
preocupação com o corpo até por estética. Mais recentemente o interesse cresceu
e já está em todo o país. Há uma preocupação com a saúde muito mais latente —
disse ele, frisando que o foco da empresa é desenvolver produtos com baixo teor
de gordura, açúcar e sódio.
Uma das mais antigas neste segmento é a Mãe
Terra, fundada em 1979. Para 2016, Alexandre Borges, sócio e diretor-presidente
da Mãe Terra, prevê alta de vendas entre 20% e 30%. Para sustentar a
perspectiva de crescimento acelerado, a marca tem feito parcerias, como a mais
recente com a apresentadora Bela Gil e com a companhia aérea Gol com snacks
integrais nos voos.
— Nossa missão é democratizar o consumo de
produtos naturais e orgânicos no Brasil. Ter preço acessível é fundamental
desde que nossos princípios e a qualidade sejam mantidos — disse Borges.
Já o produto criado por Paula Franco, que fundou
a Miss Croc há dois anos e meio e pode ser usado como substituto de salgadinho,
como crocante de salada ou para incrementar pratos, é vendido por R$ 26 um pote
de 140g:
— Neste ano, dobramos nossa capacidade produtiva
porque a demanda é realmente muito forte.
Alimentos frescos, preparados com pouco sal e
pouca gordura, feitos na hora também integram a categoria. Foi com esse
pensamento que a publicitária Cacau Melo decidiu abandonar a carreira para
abrir a All Light, que faz marmitas com toque gourmet. O menu completo, desde o
café da manhã até o jantar, é vendido por R$ 71 por dia.
As marmitas frescas (feitas pela manhã) estão só
em São Paulo. De olho na demanda nacional, Cacau elaborou versões congeladas:
— Hoje entrego 150 kits de menu completo em São
Paulo e produzo dez mil congelados por mês. Quando comecei tinha só dez
clientes.
Estudo da consultoria Nielsen em parceria com a
Equilibrium corrobora o entusiasmo dos empresários: 44% dos consumidores dão
preferência a produtos sem corantes artificiais e 42% optam por itens sem
sabores artificiais.
Entre as novas mães, a moda é oferecer papinhas
orgânicas ao rebentos. As opções estão em quiosques nos shoppings, lojas
on-line e físicas. Nos menus, ao invés das tradicionais sopinhas, estão ragú de
carne e escondidinho. A Papa Baba é uma das últimas a entrar no mercado. Os
preços vão de R$ 9 a R$ 15, bem mais alto que as tradicionais papinhas da
Nestlé (R$ 4,50 em média).
A DoPomar chegou ao mercado em 2012 com a Petit
Fruit, linha de purês de fruta sem conservantes. Nos últimos dois anos, viu as
vendas saltarem de 200 mil para 1,25 milhão de unidades por ano. Está em
varejistas de peso, como Pão de Açúcar e Walmart, além dos focados em alimentos
saudáveis, como Mundo Verde e Via Verde. Este ano, deu início a uma expansão de
portfólio.
Em março, lançou a LaSoupe, linha de sopas em
creme, e a Alfa, fruta em barra. Os purês e as sopas, por enquanto, vêm da
França. Com os novos produtos, dobrou a equipe para 50 funcionários e prevê
duplicar o faturamento para R$ 6 milhões:
— A partir do ano que vem, vamos fabricar os
purês no Brasil. A quantidade de açúcar vai cair de 3% para zero. Sem
importação, o preço para o consumidor final vai recuar em 15% e poderemos
exportar — explica o sócio Raphaël Feuilloy.
Fonte: PEGN
Comentários