Em meio ao pó, família reabre loja vazia após desastre de Mariana
Foto de divulgação da Região de Mariana: destruição pela lama (Foto: Wikimedia Commons) |
Do armarinho, ficaram tecidos cobertos por uma capa plástica, troféus,
brinquedos e outros itens populares. A loja abre por "teimosia", na
esperança de que algum cliente passe pela porta de ferro e procure algo
para comprar no salão de luzes apagadas. Há um ano, o comerciante
Geraldo Magela Carneiro, de 51 anos, espera o dia em que voltará a
trabalhar normalmente. "Já tomei prejuízo de R$ 100 mil", conta...
A
família dele é toda de comerciantes: sua irmã tem uma doceria e seu
irmão, uma sapataria. Todas nos melhores pontos da cidade, entre a
igreja de Barra Longa e a Praça Manoel Lino Mol, centro da destruição da
cidade. Todos tiveram prejuízo com a lama. E nenhum recebeu indenização
pelo estoque perdido nem pelo tempo parado.
Os comércios já
reabriram. Os prédios atingidos pela lama estão reformados. "Eles
refizeram o prédio, pintaram. Mas, no meu caso, estou assim, com a loja
sem mobília", conta Carneiro.
Dono também de uma loja de móveis na
cidade, ele praticamente abandonou o armarinho. Uma outra irmã,
funcionária pública que trabalha em uma escola de Barra Longa, abre o
comércio pela manhã, vai trabalhar e deixa os demais parentes, cujas
lojas ficam uma de frente para a outra, cuidando do lugar, para ver se
alguém entra. "Não entram", lamenta Carneiro.
Sem clientes
"Além
do prejuízo, tem a clientela. Se você fica um ano sem abrir a loja, tem
de reconquistar todo mundo de novo depois", explica o comerciante.O
grande problema é a mobília. Não há estantes nem vitrines. "A Samarco
chegou a mandar umas estantes para cá. Mas faltavam peças, não dava para
montar o que chegou. Vieram com defeito. E eram de uma qualidade muito
inferior àquela que eu tinha. Não vou montar o que tem. Quero receber
aquilo que eu perdi", bate o pé o comerciante. "Mandaram dois balcões e
duas vitrines, mas nem tive como montar", reclama.
A mobília doada
pela empresa fica amontoada com itens à venda do comércio. O espaço
também serve agora provisoriamente para guardar estoque dos
vizinhos. Quando a lama chegou ali, há um ano, atingiu tecidos, que foram
perdidos. Agora, o material que sobrou acumula uma fina camada de pó,
mesmo sob a proteção da lona plástica. "Como uma pessoa vai entrar aqui e
comprar isso? Não tem nem como mostrar", argumenta.
A mineradora
Samarco disse, por meio de nota, que "há um esforço da empresa para a
reposição dos móveis nas mesmas características e qualidade daqueles que
existiam antes".
"No entanto", segue a nota, "alguns produtos saíram de
linha, o que impossibilita a aquisição do mesmo material no mercado". A
mineradora afirma ainda que, "no caso em que os móveis entregues não
atenderam às expectativas do morador, foi feita a troca dos mesmos". A
nota conclui sem dar prazo para a solução do caso de Carneiro, que segue
com a loja parada.
Fonte: jornal O Estado de S. Paulo.
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