Crise faz restaurantes apostarem em menus com preços mais acessíveis
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A porção individual de bacalhau ao Bráz na canoa custa R$ 26 - Analice Paron |
O resultado é que donos de casas tradicionais ou reconhecidas pela
qualidade do que servem se voltam agora para negócios que se valem de
preços convidativos, em paralelo à manutenção dos restaurantes que lhes
renderam fama e chancela de portadores da boa mesa por especialistas. O
GLOBO-Zona Sul tomou a liberdade, com a anuência da crítica gastronômica
Luciana Fróes, de traçar um pequeno roteiro de locais que valem a pena
visitar em função da ótima relação custo-benefício.
O tradicionalíssimo Bar Urca, localizado abaixo do Restaurante Urca e
filhote dele, aproveitou-se da informalidade do público que se forma, e
se serve na mureta da praia, para reeditar os pratos mais pedidos do
restaurante com praticidade, agilidade e valor equivalentes aos dos
fast-foods.
Assim, as porções individuais do bobó de camarão, do
bacalhau ao Bráz e do estrogonofe de carne — três carros-chefes que
dispensam comentários — são servidas na canoa e saem a meros R$ 26 cada
um. A versão mais econômica de tais pratos oferecidos no restaurante não
custam menos de R$ 130. No cardápio, eles são apresentados como pratos
para uma pessoa, mas, de tão bem servidos, alimentam três clientes — ou
mais.
A ideia nasceu como proposta sazonal para este verão e, nas palavras
de Rodrigo Gomes, um dos donos do bar e do restaurante, tão logo as
vendas começaram, os autores perceberam que haviam “criado um monstro”,
que, a partir do dia 21, vai ganhar ainda mais corpo com o risoto de
camarão na versão canoa.
— Quando pusemos isso para ser vendido no bar, era para durar só até o
fim da estação. Dizíamos: “Vamos ver se fica até o fim do verão”. Ficou
e, para o inverno, vamos acrescentar o risotinho — diz ele, que afirma
vender em média 65 canoas por dia nos fins de semana, quando a procura é
maior.
A seleção de pratos que seriam servidos na versão “pagou, levou” —
para que a pessoa pudesse comer na mureta, no carro ou levar para a casa
—, obedeceu ao quesito praticidade. Afinal, a apresentação e proposta
são as mesmas da comida de rua: pratinho em uma mão e garfo na outra,
para degustar sem pompa ou drama. Uma aposta que agradou em cheio aos
clientes.
— O bobó de camarão que é servido no restaurante é o mesmo da canoa e
assim por diante. Ganhamos na quantidade de pratos; foi algo pensado
para compensar o vácuo da crise financeira. Não teve jeito. Pensamos na
canoa como opção para a pessoa que quer comer na mureta, seja porque
está vindo cheia de fome da praia ou porque não quer esperar uma hora na
fila do restaurante nos dias de maior movimento — diz Gomes. — Quem
quer comer um prato mas não tem com quem dividir também adorou. Hoje em
dia, o que vemos são motoristas que param na porta do bar, pedem três,
quatro canoas e levam para casa, num quase delivery.
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No Petit, os preços dos sanduíches variam entre R$ 19 e R$ 28 - Analice Paron |
O fim da Casa Daros e o fechamento forçado do restaurante Mira, que
ali funcionava, acabaram inspirando os sócios Danni Camilo, Roberta
Ciasca e Stef Quinquis, donos do Miam Miam e do Oui Oui, a investirem no
desejo antigo de Roberta, uma sanduicheria, batizada de Petit. Melhor
para os moradores do Bairro Peixoto, em Copacabana, que ganharam à sua
porta um cardápio que tem tudo para ter vida longa. As razões?
Engenhosidade, sabor e bom preço.
— Quando abrimos, funcionávamos a partir do horário do almoço. Mas
percebemos que o carioca aceita jantar sanduíche, mas não almoçar. É a
ideia de que, depois de um dia cansativo de trabalho, ele não quer
cozinhar. Quer algo simples, prático e gostoso — diz Danni, que também
faz entregas.
Os sanduíches variam entre R$ 19 (queijo com banana frita
caramelizada no brioche) e R$ 28 (cogumelos marinados no
limão-siciliano, ricota fresca e rúcula na baguete integral ou salada de
atum fresco confitado, cebola roxa, azeitona, pasta de alho assado e
tomates na baguete integral), num cardápio recheado de releituras de
clássicos e sabores tão diferentes quanto criativos.
ESTRATÉGIA DO MAIS POR MENOS
Aberto em agosto
do ano passado, o Massa surgiu da proposta de levar ao Leblon um
cardápio com preços “mais democráticos”. Com o chef Pedro Siqueira à
frente, ele é ligeiramente mais barato que o Puro, restaurante do mesmo
grupo de sócios, do qual Siqueira faz parte, localizado no Jardim
Botânico e que já faz questão de passar longe das cifras astronômicas.
Pautado pela informalidade, ele se destaca na Rua Dias Ferreira pelas
opções que podem ser deliciadas em grupo, como a burrata com
tomate-cereja assado e broto de rúcula, que serve até três pessoas por
R$ 48. Rachando a conta, fica mais barato do que muito lanche. O almoço
executivo, não à toa chamado no local de “menu convidativo”, sai a R$
49, e também prima pela fartura. São diversas opções que mudam a cada
semana, sempre com quatro pratos, entre tira-gosto, entrada, prato
principal e sobremesa, além do cafezinho com grão arábica, também
incluído no valor, para arrematar e tirar a prostração depois de tanta
comida.
Segundo Siqueira, o segredo para manter uma casa de massas artesanais
frescas em um dos pontos mais caros da cidade a preços módicos é tornar
mais enxuta a operação.
— Aqui no Massa, a matéria-prima usada nos pratos é relativamente
barata e fácil de trabalhar. O próprio serviço tem uma estrutura menor. É
diferente de um local que demanda um maître, que usa talheres de prata e
guardanapo de linho. É um outro tipo de negócio, até pelo público
heterogêneo que nós recebemos — analisa o chef.
Diante de preços mais atraentes no cardápio, o padrão de consumo do
cliente também muda, pontua Siqueira. Em vez de só pedir um prato
principal com bebida, a possibilidade de também experimentar entrada e
sobremesa sem forçar o orçamento faz com que o freguês se solte e
consiga desfrutar melhor da experiência no restaurante.
— A pessoa vai com o pensamento de que só pode pagar até um valor.
Mas se ela gasta isso num só prato, fica tensa, não aprecia direito a
refeição. Se come mais de um prato, gastando aquele valor que estipulou
como limite, a experiência é outra, muda, ela fica relaxada. É esse tipo
de coisa que queremos propiciar. Ganhamos na rotatividade, o que dá
mais trabalho, mas nos recompensa mais — afirma o chef.
Com a mesma visão, Siqueira e seu grupo de sócios vão abrir no final
do mês o Ella, pizzaria localizada na Rua Pacheco Leão, com pizzas
individuais, de 32cm de diâmetro, assadas no fogo a lenha e que custarão
a partir de R$ 25. Uma bagatela pela qualidade que oferece.
— A ideia é não ter muito mais do que dez tipos de sabores, senão
encarece a operação e nos obriga a subir o preço. Não é isso o que
queremos. Serão pizzas com uma massa leve, com 70% de hidratação. Algo
simples, gostoso e com preço atraente para nos adaptarmos a este novo
tipo de realidade, em que as pessoas não podem gastar muito. A ideia não
é ganhar fama para depois ficar aumentando o valor — garante.
Na mesma linha de raciocínio, Dionísio Chaves e Nicola Giorgio, donos
do Duo e da Bottega del Vino, abriram há pouco mais de dois meses o La
Terraza, um gastrobar em que as taças dos 20 vinhos servidos pela casa
não custam mais de R$ 9,90.
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