"Antes mesmo de entrar na faculdade de jornalismo, já sabia quais seriam alguns dos grandes dilemas da profissão: trabalhar sob pressão, não ter todos os domingos e feriados, não ter muito dinheiro, estar aberta a críticas e apurar informações incessantemente...Mas logo nas primeiras experiências com um gravador na mão descobri outro entrave necessário: a gravação. Que pesadelo transcrever (em jornalistiquês, decupar, bater fita). Todo jornalista sabe o inferno que é ouvir segundo a segundo de uma gravação e passar as palavras para tela ou papel. Em um cenário produtivo e otimista, 20 minutos de entrevista se prolongam por uma hora de trabalho." ( Pâmela Carbonari )
Mas a Microsoft acaba de livrar os jornalistas dessa. O time de
inteligência artificial da empresa desenvolveu um sistema capaz de
reconhecer a voz e transformá-la em texto. A conquista é um marco
importante para a empresa, porque em 20 anos de pesquisa é a primeira
vez que uma tecnologia com essa função atinge uma margem de erro que se
equipara a dos humanos desempenhando a mesma tarefa. O software discerne
palavras tão bem quanto duas pessoas entendem uma à outra num diálogo.
Os engenheiros criaram o sistema usando treinamento acústico junto
com redes neurais para reconhecer padrões e armazenar grandes
quantidades de dados. Em um experimento, pediram para que pessoas
habituadas a transcrever áudios (não há indícios de que tenham sido
jornalistas, mas a redação da Super poderia ter sido cobaia) escutassem
um diálogo e decupassem a conversa. Em seguida, o mesmo teste foi feito
com a tecnologia da Microsoft.
O resultado homem vs. máquina foi
surpreendente: ambos acertaram 94,1% da transcrição. Os criadores
afirmam que é provável que pessoas que não estejam acostumadas a
transcrever áudios errem mais do que o sistema desenvolvido por eles. A
ideia agora é adaptar a tecnologia a programas de acessibilidade, chats e
videogames. Outro desafio será melhorar a performance em locais
barulhentos.
"Até semana passada, costumava brincar que não era possível que o
homem tivesse chegado à Lua, arquitetado um acelerador de partículas,
conquistado todos os mares e continentes, desenvolvido um aparelho que
faz ligação, paga seu aluguel e manda nudes, mas ainda não tivesse
criado algo para transcrever uma entrevista. Só não imaginava que essa
piada estava com os minutos contados – meu tempo livre, que agora
cresceu, agradece." (
Pâmela Carbonari)
Fonte: Superinteressante
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