Aulas de cinema, cursos de defesa pessoal, simulações de eleições e
muito tempo livre: nos países com os melhores sistemas educacionais do
mundo, só as matérias básicas, como matemática e geografia, não bastam..
Não é só você: nós também estamos bem confusos com as mudanças
propostas para o Ensino Médio público no Brasil. Ontem (22), o
Ministério da Educação deixou muita gente p**** da vida (e muita gente
felizona) ao divulgar que, entre outras mudanças, artes, educação
física, filosofia e sociologia seriam retiradas da grade obrigatória,
como parte de uma medida provisória para melhorar a educação no país.
Não deu nem um dia e o MEC voltou atrás, dizendo que não era bem assim,
que tudo não tinha passado de um erro de divulgação etc.
Verdade ou não, o fato é que o Brasil precisa de uma boa reforma na
educação pública - e nisso todo mundo concorda, não importa se a camisa é
vermelha ou verde e amarela. Mas será que essa reforma precisa apagar
matérias como artes, sociologia, filosofia e educação física? Será que
os alunos precisam mesmo de mais horas de estudo? E será que professores
menos qualificados são a solução?
Conheça quatro casos de sistemas nacionais de educação que deram muito
certo de um jeito especial (e nada parecido com o que propõe o MEC):
Argentina e França: cinema na escola
O que tem de especial?
Nos dois países, os alunos de 11 a 18 anos são levados ao cinema, de
graça, pela escola. Depois do filme, eles debatem a narrativa,
fotografia, iluminação e outros elementos cinematográficos.
Pra que isso?
A França e a Argentina são dois polos de cinema muito fortes. Os
objetivos são aumentar a bagagem cultural dos alunos, acender o
interesse profissional na área e manter o público dos filmes nacionais,
para garantir que a indústria continue firme e forte. Na França, onde o
projeto já existe desde 1989, a estratégia funcionou: hoje, 34% dos
lançamentos cinematográficos no país são nacionais - aliás, o modelo
francês incentivou a Argentina a adotar o projeto, no início desse ano.
Comparando com o Brasil...
Não existe programa como esse - o máximo é o professor passar um filme
em sala de aula. E a matéria que mais se aproxima disso, artes, está
entre as que o MEC disse (e depois "desdisse") que sairiam do currículo.
Fora que a produção nacional ainda é muito pequena, se comparada à da
França e à da Argentina.
Finlândia: tudo junto e misturado
O que tem de especial?
Interdisciplinaridade e integração das matérias básicas em um mesmo assunto, pequena carga horária escolar, mais recreio e menos dever de casa. Também há poucos alunos nas salas, ensinados por professores altamente qualificados de forma personalizada - mais focado nas dúvidas de cada aluno do que no desenvolvimento da sala como um todo. A escola também começa mais tarde na vida, aos 7 anos, e eles têm artes e música, além de matérias de humanidades, como filosofia e sociologia.
Pra que isso?
Os finlandeses não setorizam o ensino como nós: eles pegam um mesmo assunto e o analisam sob diferentes pontos de vista, envolvendo várias disciplinas. Por exemplo: eles podem estudar a história de alguma guerra e, ao mesmo tempo, calcular a balística das armas usando física, ensinar a topografia da região usando geografia e por aí vai. O resultado é um pensamento crítico e amplo, e não uma coisa fechada em caixinhas.
Por lá, as crianças também têm permissão para curtir a infância - daí
o início da vida escolar ser "tardio". Aliás, por isso mesmo é que há
menos dever de casa e mais tempo livre: para a criança ou o adolescente
poder se desenvolver com mais calma. As aulas só começam depois das 9h
para garantir que os alunos tenham uma boa noite de sono e estejam mais
aptos a aprender. E o período também dura menos: a aula acaba entre 2h e
2h45.
A carreira de professor por lá também é uma das mais competitivas do
país, principalmente os do Ensino Fundamental: nas escolas públicas, só
10% de todos os candidatos a vagas de professor são aceitos, por ano.
Tudo isso gera uma confiança entre pais, alunos e a escola: ou seja,
todo mundo sabe que a educação é boa, o que faz o sistema continuar
funcionando. E dá certo: há 16 anos, a Finlândia é o país com a melhor
educação da União Europeia.
Comparando com o Brasil?
Ao contrário da Finlândia, por aqui, a vida escolar começa bem mais cedo - aos 2 anos, a pessoinha já pode estar em ambiente escolar, onde, em geral, risadas e brincadeiras já são desencorajadas desde cedo.
O tempo
livre também não é muito valorizado: a nova proposta do MEC quer
aumentar o tempo de permanência na escola, de 800 horas anuais para
1.400 horas anuais (o chamado ensino integral), na esperança de melhorar
o desempenho dos alunos. Além disso, os professores por aqui não são
exatamente os trabalhadores mais valorizados - a maioria ganha pouco e
não tem muitos incentivos ou recursos para dar aulas - e agora, a coisa
pode piorar: as mudanças do MEC acabam com a necessidade de concursos
públicos - para lecionar, a pessoa só vai precisar "notório saber" sobre
aquela matéria.
Japão: política, economia doméstica e organização
O que tem de especial?
Além das matérias básicas, o Japão tem cursos de economia doméstica, caligrafia, educação física e sociologia, e conta com aulas opcionais de artes, música e esportes. Desde 2016, os alunos também participam de discussões sobre política nacional e de simulações de eleições. Tradição mais antiga ainda é a de os próprios alunos e professores limparem a classe depois da aula - não há faxineiros nas escolas -, e a criançada também recebe aulas de defesa pessoal contra eventuais intrusos, chamadas sasumata.
Pra que isso?
O objetivo é deixar o aluno preparado tanto para os desafios do dia a dia quanto para entrar na universidade. Às vezes, os japas até exageram - existem cursinhos pré-vestibular que dão aula até de madrugada. Mas, seja como for, esse sistema deu frutos: foi pela educação de ponta que o Japão conseguiu se reerguer depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, o país tem um dos sistemas educacionais mais incríveis do mundo: é a quarta melhor do mundo, segundo a Organizacão para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Comparando com o Brasil?
Enquanto o governo japonês inseriu o debate político nas escolas, no Brasil, tramita o projeto de lei (PL) 7180, conhecido como "Escola sem Partido", que tem como objetivo banir o debate político do ambiente escolar - pelo menos, se o debate for contrário às convicções dos pais. E do outro lado do mundo, a importância das artes e dos esportes é bem maior que aqui.
Fonte:Superinteressante
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